terça-feira, 31 de maio de 2016

CRÍTICA-FAVELA GAY

“Nada mais diferente de um homossexual do que outro homossexual”. Não me lembro agora qual das excelentes figuras retratadas em Favela Gay disse essa frase, que define muito bem a alma do filme, que retrata a vida dos homossexuais em algumas das principais comunidades cariocas.

A excelente premissa faz jus ao que encontramos nos deparando com filme. A histórias de gays, transexuais, travestis e garotos de programa, que tentam equilibrar a dificuldade da vida de um homossexual com a realidade de se viver em uma comunidade carente, é um filme importante que teve sua estreia marcada no Festival do Rio.

A escolha dos “personagens” é muito boa, apesar de trabalhar com alguns estereótipos extremos de homossexuais: o afeminado, o que foi abusado, o que se prostitui… Nenhum deles têm uma história “comum”, o que talvez não rendesse um documentário maior, mas talvez isso também se justifique pela condição social de cada um, e os caminhos que acabam seguindo por conta delas. Mas isso também não deixa de ser um assunto complicado, e é aí que o filme ganha força, na complexidade do assunto.

FAVELA GAY02

Os entrevistados contam suas histórias e nos conquistam rapidamente, principalmente por conta do humor atrelado aos depoimentos. Algumas emocionam bastante, nos deixando indignados com algumas situações que ainda acontecem todos os dias, por mais que também a vejamos todos os dias. Não é algo que se torna comum. E o depoimento do deputado e jornalista Jean Wyllys é forte o suficiente para fazer tudo valer a pena ainda na primeira metade da produção, ele vai direto ao ponto da educação como formadora de opiniões homofóbicas, gerando uma sociedade intolerante desde a infância. De novo, é complexo.

Outro ponto positivo é a forte presença da discussão de gênero, que não é tão comum de ser assunto. Uma das personagens expõe sua vontade de continuar com o órgão genital masculino, mesmo que seja uma mulher durante todo o tempo. Ela explica: “eu não vou ter útero, não vou poder engravidar, não preciso operar”. Outro ponto importante é o do estudo sendo utilizado como facilitador no processo de aceitar e de se assumir, como uma forma de abrir a mente mesmo e “se sair melhor” na vida, em vários sentidos.

O problema do documentário é, em certos momentos, cair em alguns preconceitos que também já estão impregnados dentro do próprio preconceito, o clássico “mas fulano não tem jeito de gay” e a utilização de termos como “opção sexual” e “homossexualismo” ao invés de “homossexualidade”, por exemplo, confundindo feminilidade com a homossexualidade em si. E também vi gente (além de mim) reclamando por haver apenas um casal de mulheres no filme.

De qualquer forma, é um documentário extremamente importante e excelente, que, apesar dos problemas citados, precisa ser visto por todos e, sem dúvidas, merece ser aplaudido de pé.
Por Igor Pinheiro

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