“Nada mais diferente de um homossexual do que outro homossexual”. Não me lembro agora qual das excelentes figuras retratadas em Favela Gay disse essa frase, que define muito bem a alma do filme, que retrata a vida dos homossexuais em algumas das principais comunidades cariocas.
A excelente premissa faz jus ao que encontramos nos deparando com filme. A histórias de gays, transexuais, travestis e garotos de programa, que tentam equilibrar a dificuldade da vida de um homossexual com a realidade de se viver em uma comunidade carente, é um filme importante que teve sua estreia marcada no Festival do Rio.
A escolha dos “personagens” é muito boa, apesar de trabalhar com alguns estereótipos extremos de homossexuais: o afeminado, o que foi abusado, o que se prostitui… Nenhum deles têm uma história “comum”, o que talvez não rendesse um documentário maior, mas talvez isso também se justifique pela condição social de cada um, e os caminhos que acabam seguindo por conta delas. Mas isso também não deixa de ser um assunto complicado, e é aí que o filme ganha força, na complexidade do assunto.
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Os entrevistados contam suas histórias e nos conquistam rapidamente, principalmente por conta do humor atrelado aos depoimentos. Algumas emocionam bastante, nos deixando indignados com algumas situações que ainda acontecem todos os dias, por mais que também a vejamos todos os dias. Não é algo que se torna comum. E o depoimento do deputado e jornalista Jean Wyllys é forte o suficiente para fazer tudo valer a pena ainda na primeira metade da produção, ele vai direto ao ponto da educação como formadora de opiniões homofóbicas, gerando uma sociedade intolerante desde a infância. De novo, é complexo.
Outro ponto positivo é a forte presença da discussão de gênero, que não é tão comum de ser assunto. Uma das personagens expõe sua vontade de continuar com o órgão genital masculino, mesmo que seja uma mulher durante todo o tempo. Ela explica: “eu não vou ter útero, não vou poder engravidar, não preciso operar”. Outro ponto importante é o do estudo sendo utilizado como facilitador no processo de aceitar e de se assumir, como uma forma de abrir a mente mesmo e “se sair melhor” na vida, em vários sentidos.
O problema do documentário é, em certos momentos, cair em alguns preconceitos que também já estão impregnados dentro do próprio preconceito, o clássico “mas fulano não tem jeito de gay” e a utilização de termos como “opção sexual” e “homossexualismo” ao invés de “homossexualidade”, por exemplo, confundindo feminilidade com a homossexualidade em si. E também vi gente (além de mim) reclamando por haver apenas um casal de mulheres no filme.
De qualquer forma, é um documentário extremamente importante e excelente, que, apesar dos problemas citados, precisa ser visto por todos e, sem dúvidas, merece ser aplaudido de pé.
Por Igor Pinheiro
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